quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Verdade em Amor



“As verdades descobertas pela inteligência são estéreis. Apenas o coração é capaz de fecundar os seus sonhos.”
Anatole France

Um dos temas que sempre me fascinou e ao qual retorno, regularmente, é a verdade. Pensando a respeito cheguei à conclusão que ela somente como informação ou conhecimento objetivo da realidade não pode libertar ou trazer vida. Muito ao contrário, a verdade sem amor e misericórdia se torna uma das mais terríveis prisões e gera morte.

Há um texto nas Escrituras que pode ilustrar de maneira singular a minha compreensão. Ele fala sobre a mulher que foi flagrada em adultério. No contexto encontramos os fariseus e os doutores da lei conduzindo-a a Jesus para que ele desse o Seu parecer sobre a situação. O intuito deles, no entanto, era de causar-lhe algum tipo embaraço perante a lei. Pois esta dizia que se uma mulher fosse pega em adultério, deveria ser apedrejada, e eles bem conheciam a compaixão de Cristo pelas pessoas. Se observarmos a realidade de maneira crua e prática, os fariseus e os doutores da lei não falavam nenhuma mentira e expunham uma situação real. A verdade exposta por eles, todavia, tinha como motivação a manutenção do poder religioso e se valia do juízo e punição para se estabelecer. Mas Jesus conduziu-os a uma análise mais profunda ao propor-lhes que aquele que não tivesse pecados deveria atirar a primeira pedra. A palavra dita por Cristo levou-os a uma avaliação pessoal e à percepção de uma verdade mais ampla e essencial, que não estava baseada na objetividade ou limitação de uma regra, mas na existência e valor de um ser humano. A verdade dos fariseus não era diferente da verdade dita por Jesus, mas faltava a eles afeição no manuseio da mesma. A verdade em Jesus, muito ao contrário, era expressão de amor.

Entendo, assim, que sem misericórdia a verdade, normalmente, conduz as pessoas ao juízo, à morte e a algum tipo de inferno. Mas quando ela é expressão de amor e compaixão, quando é acompanhada do perdão e da graça, ela tem o poder de libertar e conduzir ao céu. Em Cristo encontro a verdade em sua plenitude, pois Nele, ela é verdade viva e relacional a qual conduz aquele que por ela é alcançado à libertação, “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).

Reconhecer essa realidade me leva a considerar que ser verdadeiro é, antes de tudo, se revestir de amor e usar as informações, o conhecimento e a realidade em benefício das pessoas, é usar a luz para gerar vida, libertar os homens de suas amarras e desgraças. Verdades que aprisionam em culpa e angústia e que não propõem um novo caminho a seguir, sinceramente, não me interessam.

Roberto Montechiari Werneck

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