terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Paciência

“Talvez haja apenas um pecado capital: a impaciência. Devido à impaciência, fomos expulsos do Paraíso; devido à impaciência, não podemos voltar”.
(Franz Kafka)

Nem tudo na vida acontece respeitando os prazos definidos por nossas expectativas e ansiedades. Sei disso porque, vezes sem conta, me encontro esperando e esperando. E, às vezes, essa espera é longa e indefinida. Sofro nessa espera. Em alguns momentos, quero adiantar os ponteiros do relógio, quero avançar o sinal, quero furar a fila, mas percebo que se o fizer, as conseqüências serão danosas e prejudiciais. Assim, espero e entendo que tudo na vida tem a sua ocasião própria e que há tempo para todo o propósito debaixo do céu, como me ensina o sábio Salomão.

Com o tempo, eu aprendi que a paciência é aprendida. Eu aprendo a ser paciente no ambiente desfavorável em que estou inserido. Vivo no mundo e descobri que ele não existe para me servir, muito ao contrário, ele é, diversas vezes, um lugar de frustrações e irresoluções. Mas, nele eu sou instruído a esperar, pacientemente, por algo que nele não está, que o transcende. É nele que eu aprendo a entender e a aceitar que nem tudo pode ser ou acontecer no tempo e da forma que desejo. É nele que aprendo que a minha esperança precisa estar além daquilo que os olhos vêem e o ouvidos ouvem. É nele que minha fé cresce e minha esperança se torna robusta.

Hoje sei que a minha paciência é o meu jeito de esperar. Em uma fila, posso me impacientar e agir com rispidez e agressividade. Mas também, posso me portar com calma e procurar entender a situação sob a perspectiva do outro. Não, necessariamente, devo me conformar com as circunstâncias, mas sim, antes de falar ou agir, preciso procurar entender o que realmente está acontecendo e provocando a demora. Quando espero com paciência e compreensão, a demora se transforma em oportunidade para construir bons momentos em ocasiões que seriam desagradáveis.

Quando ajo com paciência, na verdade, estou me prontificando a suportar um mal com o intuito de repelir outro mal maior ou para conquistar um verdadeiro bem. Eu me porto com paciência porque ela me favorece, me dá condições de fazer escolhas acertadas e de negociar com a vida com sobriedade e não impulsivamente. Ajo com paciência porque ela se mostrou mais saudável e eficaz em minhas relações, proporcionando a mim e às pessoas próximas uma melhor qualidade de vida.

Cultivo a paciência porque entendi que a vida é rara. Concordo com o cantor Lenine quando ele canta: “Enquanto o tempo acelera e pede pressa / Eu me recuso, faço hora, vou na valsa / A vida é tão rara”. É porque a vida é rara é que preciso de paciência para desfrutar também do bem que há nela, preciso de paciência para saborear os momentos preciosos e singulares que me são concedidos.

Roberto Montechiari Werneck

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