quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um pouco de solidão, só um pouco


“Disse o Senhor Deus: não é bom que o homem esteja só...”
Gênesis 2:18
A solidão pode ser uma tortura, uma experiência negativa e angustiante ou pode se tornar uma circunstância em que temos condições de aprender mais sobre nós mesmos, ocasião em que nos encontramos com nossa vida interior sem interferência alheia.
Verdade é que aprendi muito a meu respeito nos momentos mais solitários de minha história, e saiba, foram muitos. Nestes estados me defrontei com os monstruosos seres que habitavam os recônditos de minhas memórias e tomei contato com as verdades mais doloridas e feias a meu respeito. Porém, foram, exatamente, estes momentos que trouxeram o rompimento das amplas mentiras que empanavam a minha percepção sobre as pessoas, sobre a vida e suas possibilidades.

Foi na solidão dos meus desertos que pude reconhecer a realidade do meu caminhar solitário. Foi ali que enxerguei que, como seres humanos, estamos sós, definitivamente, isolados uns dos outros e o máximo que podemos nos aproximar é da exterioridade de nossos semelhantes. Tudo que temos, como pessoas envolvidas na estrutura desse mundo, é esta proximidade virtual e aparente. Quando temos exclusivamente a vida bidimensional proposta pela materialidade, somos apenas capazes de compartilhar fragmentos de ser, toques, palavras, gestos que na realidade são apenas mímicas da alma.

A experiência da solidão produziu em mim uma profunda necessidade de companhia que não fosse somente um corpo ao meu lado, mas uma presença, uma existência que me compartilhasse. Assim, pude compreender, que para ter verdadeira companhia, precisava ser residência para o outro, ser casa onde o meu próximo pudesse se achegar e encontrar abrigo. Para tanto, as pessoas não poderiam ser somente objetos de satisfação ou instrumentos para minha realização pessoal, precisavam ser amadas como eu amo o meu próprio ser, elas precisavam ser queridas e recebidas como parte essencial de minha existência.

Essa descoberta possibilitou que viesse a fazer uma séria escolha, poderia permanecer solitário nas vaidades de minha auto-suficiência, ou poderia reconhecer o quanto era imperiosa a presença das pessoas e seguir em sua busca. Escolhi a segunda opção e não me arrependo, pois a vida só encontra o seu real sentido na presença e intimidade com o outro.

Continuo gostando de um pouco de solidão. Mas hoje não vivo mais só. A solidão em minha vida se tornou uma escolha pessoal e momentânea e não uma imposição da existência. A sua crueldade foi erradicada, definitivamente, quando não somente os outros se tornaram presentes, mas sim quando o Grande Outro em mim fez residência.

Roberto Montechiari Werneck

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