terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Slow Food



“Apenas desejo a tranqüilidade e o descanso, que são os bens que os mais poderosos reis da terra não podem conceder a quem os não pode tomar pelas suas próprias mãos.”
René Descartes

Tenho um projeto de descanso. É, estou tentando construir minha vida de tal maneira que seja permeada de bons e agradáveis momentos. Quero, também, viver meu trabalho e as responsabilidades com a consciência do sossego. O escritor italiano, Domenico de Masi, chama esse tipo de postura de ócio criativo. Ele propõe a vida em slow food em contraposição ao fast food que reina hoje no mundo pós-moderno. Concordando com ele, quero construir os meus dias e saboreá-los, quero gostar da vida que vivo e ter tempo para uma vida que faça sentido para mim. Sei que gosto de muitas coisas que ficam esquecidas em um segundo plano de minha existência. Gosto de conversar com amigos sem me preocupar com as horas; gosto de assistir a bons filmes, ler ficção e outros temas que nada tenham a ver com a minha função. Além disso, gosto de andar vagaroso pelas ruas sem ter compromissos a me apressar; gosto de ouvir música na madrugada com as luzes apagadas; gosto de demorar debaixo do chuveiro e me secar lentamente; gosto de participar de festas; gosto de me escangalhar de rir ouvindo piadas e histórias engraçadas; gosto de comer devagar e saborear novas iguarias e de muitas outras coisas similares a estas. Agora me diga: O que há de errado em organizar a vida de tal maneira que haja tempo para fazer todas essas coisas, sem culpa?

Para algumas pessoas falar em descanso é declarar uma grande heresia num mundo que reverencia o stress e as multidões de compromissos e atividades. Tenho que reconhecer que para esse mundo, na verdade, sou um herege. E da pior espécie, diga-se de passagem. Pois além de gostar desse tipo de ócio, entendo-o como fecundo, divulgo-o e procuro adeptos.
Hoje sei que descansar não significa ser improdutivo ou apático. Muito ao contrário, o descanso é um outro nome que damos à oportunidade de vivenciar histórias que tem tudo a ver com o que somos e gostamos, ou seja, com nossos verdadeiros interesses. Creio que são nos nossos momentos de descanso que produzimos o melhor de nossas vidas, nossos melhores sorrisos, nossos melhores pensamentos, nossos melhores afetos. Descansar é romper com as rotinas de um mundo cão no intuito de encontrar o nosso momento e o sentido de nossa existência. Cansa ser o que não somos e viver o que não desejamos. Assim, aquele que ama o que faz e que faz o que ama, encontrou repouso.

O descanso é o resultado esperado por aquele que empreende uma tarefa e a entende relevante e preciosa. Nesse caso descanso significa também poder contemplar o resultado de algo que foi feito com amor. Por essa razão, diz a Escritura que Deus descansou, não necessariamente porque estava cansado, mas descansou ao contemplar algo tão belo que foi criado para o Seu próprio contentamento.

Ao ler a Bíblia esbarro na declaração que diz que o céu é um lugar de descanso. Ela também nos fala que Jesus convidava as pessoas para irem a Ele para encontrarem alívio para as suas almas. Portanto, descanso não deve ser uma coisa, necessariamente, má.

Roberto Montechiari Werneck

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