quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

As Leis e o Amor



“Quando alguém compreende que é contrário à sua dignidade de homem obedecer a leis injustas, nenhuma tirania pode escravizá-lo.”
Mohandas Gandhi


As leis são o reflexo de uma sociedade. Elas mostram o grau de desenvolvimento ou estagnação de um país ou comunidade. Quanto mais leis, quanto mais rígidas e autoritárias, mais evidente fica a inabilidade das pessoas de se comportarem e interagirem umas com as outras. Pode parecer um contra-censo o que vou dizer, mas chego à conclusão de que quanto mais leis, menos civilidade; quanto mais leis, mais notório o nível de subdesenvolvimento de um povo. Entendo as regras como cabresto a cercear os impulsos instintivos que ainda estão latentes, que não foram compreendidos ou mesmo resolvidos. Sem elas muitas pessoas não saberiam se respeitar e se prejudicariam mutuamente em um ambiente de caos e desordem. Sem as rígidas e múltiplas regras esse tipo de sociedade sofreria uma completa desestruturação.

Mas as leis também servem para dar consciência. Somente a partir do momento que eu me deparo com uma regra e não consigo cumpri-la, ou mesmo, decido transgredi-la, é que vejo quem realmente sou e quais são as minhas limitações e inclinações. As regras sempre carregam em si este fator de perversão, elas estão ali como denúncia de que não serei competente o suficiente para observá-las. Pois, quem é que poderia dizer, em sã consciência e verdadeiramente, que é cumpridor de todas as leis estabelecidas em todos os níveis e contextos de sua convivência social. As leis são, portanto, um exercício constante de reconhecimento.
Entender essa realidade é afirmar que as regras sempre serão ineficazes para efetivar definitivamente a ordem e promoverem o bem. Elas no máximo evitam algum mal, pois estão centradas em preveni-lo e são, normalmente, negativas em sua essência. O “não” é a sua peculiar característica e a punição sua especificidade.

Falar sobre as leis é chegar à conclusão de sua necessidade, em maior ou menor grau, no mundo que vivemos. Como seres humanos somos este misto de dignidade e desonra e o mundo e as estruturas que construímos são nossa imagem e semelhança.

Creio que a única alternativa para a desregulamentação e desinstitucionalização do mundo seja a prática do amor. Digo isso porque os procedimentos, comportamentos e valores que ele traz em si tem a marca do fazer em benefício do outro sem que seja isso uma negociação ou espera. Assim, o amor identificado como ágape é a ação que se satisfaz com o bem do outro. Desta forma, as atitudes, escolhas e sentimentos envolvidos por sua aura são a busca do bem sem a mediação ou imposição de uma estrutura ou instituição que regule as relações. Quanto mais amor, mais civilidade, maior desenvolvimento, maior atenção e atendimento às necessidades humanas, menos regras.

Roberto Montechiari Werneck

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