terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Entre o Dito e o não Dito

“Há algo de ameaçador num silêncio muito prolongado.”
(Filósofo Sófocles)

Às vezes o ruído ao redor é ensurdecedor. Todos com algo a dizer e em altas vozes tentam se fazer ouvir. Muitas opiniões, conclusões, teses, discursos, julgamentos inundam as praças, as telas, os porões de nosso tempo. Vejo um grande número de pessoas que diz ser capaz de explicar alguma coisa a alguém; vejo outros tantos em busca de platéias ávidas por uma novidade; observo também que existem aqueles que se apresentam habilidosos para impressionar a ouvintes que nada ouvem, pois, eles mesmos, estão certos que têm muito a dizer.

Desta forma, pessoas articuladas sobram pelas esquinas, e a palavra, um bem antes tão precioso, se tornou uma banalidade qualquer, usada de qualquer maneira, sob qualquer pretexto.

Para falar a verdade, nessa Babel de sentidos, palavras e prédicas, me encontro um tanto perplexo. Gostaria de me calar, mas preciso dizer que tenho tentado ficar em silêncio, calar minha boca, cultivar a taciturnidade. Nesse paradoxo, entre o que precisa ser dito e o esforço por não dizer, percebo que o meu desejo é frágil e se coloca como um gigantesco desafio, do tamanho de toda a minha existência. Não tem sido fácil calar, me esforço e me frustro. Pois, ao tentar o silêncio, me encontro de novo em um mundo que anseia pela palavra e a deseja sofregamente. O mundo existe pela palavra e por ela é mediado. Assim, percebo que o silêncio pelo silêncio em nada se torna melhor do que a verbalização. Entretanto, a eficácia e poder do silêncio, estão na oportunidade dilatada para se pensar o dito, na fuga do impulso do dizer pelo dizer que busca a demarcação defensiva de um pretenso eu. O silêncio nesse caso, para mim, se mostra como o tempo da razão encontrar a sabedoria.

Sinceramente, tenho buscado emudecer-me porque creio que o silêncio é um dos bens mais raros de nossa realidade presente. Mas estou certo que a minha mudez não será unicamente isenção expressiva ou omissão verbal. Muito ao contrário, meu silêncio será a busca do entendimento, a procura da melhor maneira e momento para colocar as palavras significativamente em um mundo inundado por significados escusos e ambíguos. Meu silêncio será um resistir feroz à precipitação e à pressa do mundo, será o triunfo da prudência sobre a loucura.

Vivo, diariamente, essa profunda crise necessária a todos aqueles que empreenderam a jornada do amadurecimento espiritual, a tensão entre o que precisa ser dito e o sigilo de alma tão necessário à sabedoria.

Além dessa crise, tenho vontade de poder ficar em silêncio com outras pessoas, sem aquela ansiedade de ter sempre algo a dizer para preencher o espaço do encontro. Simplesmente, estar próximo me permitindo e concedendo ao outro a experiência do sossego, da calma, da paz. Talvez eu venha encontrar essas pessoas, enquanto não as encontro, nos momentos oportunos, exercito-me a calar a voz.

Roberto Montechiari Werneck

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