terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Pequenas Violências



O que me angustia são as violências sutis e recorrentes. Aquelas que são executadas sob o disfarce da lei, da religiosidade, da instituição, do lucro. Aquelas que encontram lugar nos códigos, nas discretas injustiças, nas promessas vazias, no exercício de um autoritarismo singelo e disfarçado. Pequenas agressões que fragilizam a consciência e corrompem a fé, que conduzem as pessoas a um estado de indiferença e apatia. Sei que as grandes violências são capazes de espantar e chocar, porém, creio que as pequenas violências fazem pior, anestesiam a alma.

Uma certa amargura brota quando percebo a ganância dissimulada de certas autoridades em suas vestimentas sérias, com seus discursos fáceis, bradando em palanques diante de assembléias. Homens e Partidos que impõe suas vontades a um povo que não tem como reagir. Cheios de cobiça, manejam as leis em benefício próprio por meio de conchavos e acordos secretos. Mentem e estupram os direitos de uma gente que não sabe a quem recorrer em busca de justiça.

Envergonho-me em ver os novos púlpitos e as novas técnicas religiosas caça-níqueis. Marketeiros com suas escrituras debaixo do braço. Estrategistas midiáticos com coração de lobo, pastoreando um rebanho faminto e desesperado. Em função de seus próprios desejos corrompem o ensino da verdade e pregam mentiras, misturam suas visões equivocadas e gananciosas à linguagem e chavões religiosos. Violentam a esperança de muitos sob o peso de uma mensagem meritória e desprovida de graça. Instituem as novas indulgências na busca de edificarem os seus Impérios da Fé.

Fico aflito ao observar que somos obrigados a engolir, continua e inadvertidamente, publicidade e propaganda. As marcas estão por toda parte, invadindo tudo que tocamos ou usamos, nossos momentos íntimos e nossos sonhos. Somos ensinados diariamente que, para que venhamos a ser alguém, precisamos nos matar de trabalhar para conseguir dinheiro suficiente para comprar toda espécie de coisas que nos darão o status social necessário.

São essas e outras pequenas violências que gradualmente cauterizam a consciência e sedam a alma das pessoas. Pequenas violências que passo-a-passo alteram valores, destroem princípios, fragilizam o ser e o expõe à oportunidade da prática do mal. São essas e outras pequenas violências que destroem a esperança de termos um mundo melhor, de vermos a justiça brotando, de experimentarmos um reinado de paz.

A partir do que foi dito, convido-o a não se deixar contaminar pelo pior que você tem visto ou experimentado, conclamo-o a não se calar diante da injustiça que está sendo exercida contra o seu próximo ou mesmo contra você, peço encarecidamente que você não reproduza o mal que o fizeram. Que essas pequenas violências não cresçam, mas sim, que sucumbam diante do exercício do bem.

Roberto Montechiari Werneck

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