terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mal da Seriedade ou Dom da Leveza

“Todo o humorismo sublime começa com a renúncia de se levar a sério a própria pessoa”
Hermann Hesse – O Lobo das Estepes

Um bom amigo e professor certa vez me disse que uma pessoa saudável era aquela capaz de rir dos seus próprios defeitos e de não se levar tão a sério. Penso que ele tinha razão. A sua afirmação ponderava, não sobre os defeitos de caráter ou índole, mas às limitações inerentes à nossa condição humana, ou seja, à falta de habilidade para a realização de uma determinada tarefa, às idiotices costumeiras, ou mesmo, ao fracasso que nos acomete a todos em alguma circunstância. Não somos suficientes, nem mesmo inerrantes, e reconhecer isso, dizia ele, é o primeiro passo que podemos dar rumo a uma melhor qualidade de vida. Concordando com as palavras desse meu amigo, dizia Charles Chaplin: “O humorismo alivia-nos das vicissitudes da existência, ativando o nosso senso de proporção e revelando-nos que a seriedade exagerada tende ao absurdo”.

Na contramão dessa lógica, encontro pessoas que sofrem do mal da seriedade. Gente grave, judiciosa, sisuda, gente que é incapaz de esboçar um sorriso depois de um tropeço na calçada, gente que briga com os amigos porque perdeu uma partida de futebol, que entra em depressão porque não passou no vestibular, que se enforca porque a firma faliu, que mata porque foi traído. Gente séria demais, que, inclusive, considera uma ofensa o riso do outro a respeito de seus absurdos. Gente punitiva demais, que, em função de uma incapacidade ou erro, se torna carrasco de si mesma.

Em contraposição a isso, com o decorrer do tempo, estou abrindo mão de algumas neuroses. Dentre elas, a de ter que manter a guarda sempre erguida em defesa de minha infalibilidade. Tomei a decisão de cultivar o bom humor, de rir das minhas idiossincrasias. Tomei a decisão de ser despretensioso, a não me levar tão a sério e a não confiar demasiadamente em mim mesmo. Como conseqüência tenho tido a oportunidade de sofrer menos e sofrer por aquilo que realmente vale à pena, aprendi a avaliar a proporção e significância dos meus fracassos e limitações. Assim, a minha vida tem se tornado mais calma e feliz.

Creio, sinceramente, que quando seguimos pelas veredas do bom humor e da aceitação pessoal recebemos o Dom da Leveza. Ele é o divino antídoto contra o Mal da Seriedade. O problema é que pessoas demais estão infectadas, enfermas em suas zangas. Diria que há uma verdadeira epidemia de mau humor no mundo que vivemos. Mas também creio que as boas-novas sejam capazes de mudar o humor de muitos em nosso planeta, salvando-os desse perfeccionismo sufocante, fazendo-os se desfazer dessa loucura humana que deseja ser Deus e levando-os a chorar os seus pecados verdadeiros e depois rir em sua humanidade essencial.

Roberto Montechiari Werneck

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