quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Pseuda-Perfeição e o Caminho Perfeito



“Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus.”
Filipenses 3:12



Percebo que não sei e não tenho como me relacionar com gente perfeita. Já tentei várias vezes e percebi que, se assim o fizer, sempre me encontrarei numa circunstância de muita angústia e frustração. Só tenho condições de conviver com pessoas que têm problemas, dúvidas e crises, porque elas são o meu espelho e, tendo consciência do que são, continuamente serão capazes de entender minhas fragilidades, inseguranças e limitações. Estarão prontas para estender-me a mão quando vier a cair e sempre terão, em seus lábios, palavras de conforto para sanar meu coração em momentos de dor e agonia.

Pude entender com o decorrer do tempo que gente que olha para si com olhos de perfeição, normalmente, faz do outro o ocultamento das mazelas e pecados que sabem haver em suas próprias almas. O outro é ao mesmo tempo denúncia e expiação daquilo que não querem enxergar em si mesmas. Por isso, a necessidade constante de vasculhar a vida alheia à procura de erros; por isso, a necessidade de revirar a vida do próximo pelo avesso e policiar seus passos. Pois a lógica destes é: “Se ele for pior, me tornarei melhor”. Assim, o melhor de si está baseado na precariedade do comportamento do outro. Neles há uma necessidade de rotular o próximo e se diferenciar dele, tratá-lo como infrator e depreciar o máximo possível quem são, para que, por fim, se tornem melhores.

Gente que se considera perfeita não pode viver a própria vida. Vivê-la é encontrar o inferno pessoal e perceber que as fórmulas mágicas para a resolução de problemas não funcionam ou não são aplicáveis à própria realidade. Vivê-la é ter que revirar o baú da existência e encontrar as misérias relacionais, as frustrações mais ocultas. Viver a própria vida é perceber, é ser exposto à solidão que a pseuda-perfeição impinge e se deparar com a incapacidade de encontrar alguém que possa amá-lo simplesmente como é.

A verdade é que luto para ser melhor do que sou, para melhorar e me tornar mais humano, mais digno. Mas sei que há muito caminho ainda a percorrer. Procuro encontrar nessa trajetória, pessoas a quem eu possa ajudar e que me auxiliem. Essa é a razão porque escolhi seguir o caminho de Cristo, ele é o trajeto para pecadores arrependidos, mas, mesmo assim, pecadores em processo. Gente que luta diariamente para vencer seus erros e medos e se libertar do fardo opressor das exigências religiosas e das etiquetas civilizantes.

Ao percorrer este Caminho vou compreendendo o que é perdão, não, necessariamente, por expressá-lo, mas por experimentá-lo, por ser alvo do perdão de Deus. Entretanto, vou aprendendo também sobre o seu poder libertador ao concedê-lo àqueles que estão ao meu redor.

Roberto Montechiari Werneck

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