terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Aprende a fazer contas



“Não odeies o teu inimigo, porque, se o fazes, és de algum modo o seu escravo. O teu ódio nunca será melhor do que a tua paz.”
Jorge Borges

Odiamos para nos assemelhar. Tememos ser diferentes daquilo que está ao nosso redor e sermos identificados com os estranhos e inadequados. O ódio é uma prática universal e generalizada. As pessoas odeiam pelos mais diversos motivos. Mas, com certa freqüência, odeiam mais, incisivamente, aquilo que é diferente, aquilo que destoa de suas verdades ou de suas mentiras. O escritor e novelista francês Stendhal, depois de muito viver, disse: “Já vivi o suficiente para ver que a diferença provoca o ódio”. Temos o hábito de sentir aversão e antipatia daqueles que se vestem de maneira diferente, que ingerem alimentos diversos daqueles que estamos habituados, que fazem suas preces a outras divindades e pensam com uma lógica díspar da nossa. Odiamos e a partir desse ódio, fazemos as guerras, e com elas, intentamos destruir a diversidade e sufocar a identidade alheia. Se assim não fazemos, somos condenados como traidores da homogeneidade, rechaçados como infiéis.

Odiamos por falta de habilidade para amar. Os exemplos de amor são escassos e as oportunidades de aprendizagem, dia-a-dia, se tornam mais raras. O amor e o ódio são escolhas de conduta e o próprio sentir se mostra como um efeito colateral daquilo que o ambiente nos fornece. Desta maneira, o ódio se alastra como epidemia, sendo fomentado pela cobiça, pela avareza e, por toda a sorte de vícios e atitudes que o mundo celebra. Creio que assim acontece porque o ódio é o sentimento que melhor se encaixa às almas mesquinhas, e elas são muitas. Aqueles que não conseguem ir além, que são, inevitavelmente, reacionários, só podem odiar. Falta-lhes a imaginação que o amor exige. Pois, amar é ser maior, é dar o passo definitivo rumo ao porvir e à idealização, enquanto o ódio é apenas o escarafunchar no vômito das circunstâncias imediatas. O escritor português Vergílio Ferreira nos ensina com sabedoria a sermos sensatos ao escolhermos os nossos sentimentos e atitudes: “O amor acrescenta-nos com o que amarmos. O ódio diminui-nos. Se amares o universo, serás do tamanho dele. Mas quanto mais odiares, mais ficas apenas do teu. Porque odeias tanto? Compra uma tabuada. E aprende a fazer contas.”

Vivemos tempos de terror e ódio, mas não precisamos nem devemos ser instrumentos para a sua disseminação, mesmo que vejamos a animosidade sendo vivenciada e as pessoas pagando o bem com o mal, esse não é o melhor trajeto. O ódio sempre atualiza a agressão e fragiliza a alma, deixa-a menor e sempre mais miserável. Busquemos o antídoto contra esse mal, sejamos cheios de imaginação para amar e converter as nossas dores em alívio para o mundo. Creiamos como Charles Chaplin foi capaz de crer: “Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror”.

Roberto Montechiari Werneck

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