terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Preciso Pensar

“Se é difícil impedir de pensar os povos que se acostumaram a isso, é cem vezes mais difícil forçar a pensar os que o esqueceram ou desaprenderam”
(Historiador francês Edgar Quinet)

Já foi dito que pensar é transgredir, é se dispor a ir além dos limites pré-fixados pelas convencionites civilizantes, é estar disposto a retirar as mordaças das opiniões politicamente corretas e a sabotar os trilhos das intelectualidades dogmáticas. Pensar é resistir às imposições das mentes tacanhas que se conformaram ao rastro de outros, que se habituaram a fingir satisfação no intuito de não destoar das maiorias. Pensar é se aventurar a fazer perguntas quando todas as explicações já foram dadas pelas autoridades de ocasião, é se arriscar diante das baionetas, diante das caras feias e das ameaças de punição.

Para muitos, quem pensa, deve ser calado. Para mim, porém, quem pensa, deve ser ouvido. No entanto, há muito já deixaram de pensar e de fazer perguntas importantes em nosso país. A realidade que nos envolve é a realidade do absurdo cômodo, das aberrações costumeiras, das incoerências sublimes. Somos informados diariamente sobre a malversação do dinheiro público, sobre a corrupção policial, sobre o crescimento do narcotráfico, sobre o comércio da fé, sobre a prostituição infantil e nem sequer uma pergunta surge em nossas mentes e, quando surgem, fazemos questão de não pensar a respeito. Atrocidades acontecem e nós simplesmente nos adequamos a achar que a vida é assim mesmo, que era a vontade de Deus, o destino. Aviões caem, crianças são mortas aos montes, o sangue dos nossos jovens é derramado e nenhuma dessas coisas nos incomoda. Assistimos a tudo isso como quem vê um filme de sessão da tarde, sentados em nossas confortáveis poltronas, comendo pipoca. Tornamo-nos insensíveis. Chego a essa conclusão, pois creio que pensar é um ato de sensibilidade frente a algo que nos maravilha ou nos angustia, nos incomoda. Pensamos porque esse é o ato mais humano esperado de seres humanos normais, diante daquilo que deveria ser uma anormalidade. Fazemos perguntas por que isso é que se espera de alguém que não compreendeu uma situação.

De minha parte, continuo a indagar e a ouvir outros que se arriscam a pensar, mesmo que esses outros não façam parte do meu grupo, do meu clubinho. Aprendi isso convivendo com livres pensadores, gente miúda e inconformada, disposta a reformar o mundo, a própria vida, nem que fosse, somente, a própria vida.

Na verdade, preciso pensar porque ainda restou alguma sensibilidade em mim. Preciso pensar porque não tenho todas as respostas que me possibilitariam entender o absurdo que se tornou a vida humana sobre a face dessa terra e, em especial, no meu país. Preciso pensar para continuar sendo gente e não virar bicho, pois tenho visto diariamente essa espécie de involução acontecendo ao meu redor. Preciso pensar porque sigo a Alguém que abriu a minha mente para fazer perguntas que até então eu não sabia fazer, retirou meu coração de pedra e me deu um coração de carne capaz de sentir, coração que me levou a pensar.

Roberto Montechiari Werneck

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