terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Palavras e Palavras


“Eu fiz soprar um vento revolucionário. Pus um barrete vermelho no velho dicionário”
(Victor Hugo)

As palavras permeiam a vida. São instrumento que expressam afetos, que mudam destinos, que trazem vida ou promovem a morte. Pelas palavras construímos sonhos, desenhamos o futuro, descrevemos o passado e emprenhamos o presente. Elas têm o poder de nos servir e de nos aprisionar. Lamentamos sua eficiência destrutiva, bem como, nos extasiamos em sua poética. Com elas, inevitavelmente, deixamos marcas nos muros e nas almas.

As palavras são também fendas por onde deixamos vazar nosso ser. São por elas que comunicamos aos outros o que há dentro de nós e, da mesma forma, por elas entendemos o mundo oculto que borbulha no interior de nossos semelhantes. Elas são mistério e revelação. Capazes de nos mostrar o íntimo dos corações, mas ao mesmo tempo, fachada poderosa e esconderijo no qual muitos se ocultam. Por essas e outras razões, deveríamos ser, sempre, cuidadosos ao usarmos as palavras em nossos convívios e relacionamentos.

Com o tempo aprendemos que nem todas as palavras precisam ser ditas. Inclusive, algumas delas se mostraram extremamente valiosas porque permaneceram no silêncio, não foram proferidas. Esse jogo de silêncio e de palavras evidencia o grau de nossa tolice ou sabedoria. Muitos sofrem de intensa verborragia, falam compulsivamente, enfastiam o mundo com as suas opiniões, avaliações, críticas e conselhos; em seu muito falar erram e mostram o quanto são fúteis. Outros, entretanto, fazem das palavras um bem precioso que não pode ser desperdiçado. Estes não costumam lançar as suas pérolas aos porcos, muito ao contrário, dominam os seus lábios e conservam as suas almas no silêncio de suas opiniões. Mostram a sua sabedoria pelo não dito.

Com o tempo aprendemos que algumas palavras precisam ser ditas. Há palavras que são esperadas com ansiedade. O cônjuge que aguarda uma declaração de amor, uma palavra de reconhecimento; o filho que espera por uma expressão de incentivo e apoio; o amigo que anseia por um telefonema, uma voz que o diga que ele foi lembrado; pais que permanecem expectantes almejando palavras de gratidão. Há palavras que podem promover a felicidade das pessoas, há um mundo que ambiciona ser engravidado por boas notícias, por palavras de amor, de carinho e de aceitação.

Por fim, ou inicialmente, as palavras são uma fonte de sentido. Foi por meio delas que Deus comunicou o Seu amor ao mundo e fez do Verbo a conexão da salvação. É pela Palavra que somos salvos, a Palavra encarnada, Nela encontramos a razão da vida, o sentido da existência. O Verbo se fez carne e habitou entre nós...

Roberto Montechiari Werneck

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