quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Dores Alheias

“As dores ligeiras exprimem-se; as grandes dores são mudas.”
Séneca

Herman Hesse em seu livro Demian relata em primeira pessoa a história de vida de um garoto chamado Sinclair, sua infância, adolescência e maturidade, suas percepções e circunstâncias de vida. Sinclair ao lembrar-se de sua meninice ressalta a profunda aflição vivenciada por ele ao ser perseguido e chantageado por um outro garoto maior chamado Franz Kromer. A sua angústia era tamanha que o levou a adoecer. Em certo momento, ele declara da seguinte forma o seu tormento infantil: “Em muito poucas vezes na vida, o infortúnio chegou tão próximo de meu coração, e nunca mais voltei a sentir um desespero e uma escravidão maiores”. Porém, o seu sofrimento passava desapercebido, ou quando muito, era somente visto, por seus pais e outros adultos, como coisa de criança.

Por vezes, olhamos para o sofrimento das pessoas e os mensuramos de acordo com um padrão de sensibilidade generalizado. Pensamos, por exemplo, que quem sofre de câncer, sofre mais do que alguém que padece de depressão; ou, um adulto estressado, vivencia o seu estresse de maneira mais contundente, justificado e verdadeiro do que uma criança; ou ainda, a perda de um ente querido dói mais do que o sentimento de um homem de meia idade que foi despedido e se vê desorientado. Em função desse balizamento estereotipado, tendemos a considerar algumas dores como legítimas e a desconsiderar, ou mesmo, recriminar, outras que entendemos menores e, juntamente, censuramos aqueles que as sofrem e os rotulamos como frágeis e pusilânimes.

Hoje sei que toda dor, dói; que toda aflição, aflige; que toda tribulação, atribula a alma das pessoas. Dizer isso parece uma redundância, mas, certo é que, em muitas vezes, nos colocamos diante daquele que padece com uma postura impassível e descomprometida. Olhamos, descremos da dor descrita e negligenciamos a ajuda necessária.

Creio que seja tempo de nos aventurarmos a procurar entender a consternação, tristezas e dores dos outros a partir de seu ponto de vista. Isso irá requerer de nós empatia e comprometimento, sensibilidade e afeto. Mas também nos dará condições de entender as nossas próprias angústias e frustrações, e possibilitará que venhamos a nos tornar pessoas melhores. Pois quem não entende a dor dos outros, ou as minimiza, não saberá dimensionar, adequadamente, as suas próprias dores, fazendo-as maior ou menor do que realmente são.

Hoje em dia não me afasto e me esforço para dar atenção àqueles que procuram alguém que lhes ajude a carregar os seus fardos. Busco ouvi-los e entendê-los e tenho percebido que o maior beneficiado nesse encontro, talvez, não sejam eles, mas sim, sou eu que vou conhecendo um pouco mais de suas experiências e a partir delas sou ensinado a ser uma pessoa melhor.

Roberto Montechiari Werneck

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