terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sobre o Amor

“O amor arranca as máscaras sem as quais temíamos não poder viver e atrás das quais sabemos que somos incapazes de o fazer.”
(James Baldwin - A Próxima Vez)

O amor é uma chaga aberta, exposta, de onde jorra vida. É a mão vazada pelo cravo, é a carne fendida pela lança. É a exibição da autêntica fraqueza frente à possibilidade da rejeição. Sim, o amor pela sua própria natureza não é, e nunca será, a imposição de si. Muito ao contrário, ele é a entrega radical e arriscada que se submete ao acolhimento ou a recusa. Todavia, aquele que ama nunca se sente menor ao ser enjeitado, nem maior por ser aceito, pois o amor é amor em si e no ato de ser. Assim, o ato de amar se mostra na alegria de buscar o pleno bem do ser amado, sem se deixar abater ou diminuir pela negação alheia.

Por essas e outras razões, creio que somente os seres destemidos podem amar, os covardes são incapazes de assumir a realidade da completa exposição que o amor exige. O poeta Fernando Pessoa afirmou apropriadamente que “todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas”. É no ridículo do total desvendamento de si ao outro que o verdadeiro amor se mostra.

Amor é revelação. É o desejo de ser conhecido, de ser entendido, de ser deixado atingir pelo raciocínio e percepção alheios. Ele é luz vinda ao mundo, é a claridade desnudando suas entranhas. Hoje sei que quem ama, nada esconde, pois o desejo daquele que ama é de ser amado pelo que é, de ser conhecido, de ser desvendado.

Amor é originalidade. O ato de amar exclui a preocupação de ter que ser adequado ou conivente com tradicionalismos. O amor é em si o jeito incomum de se viver em um mundo cheio de velhos vícios relacionais. Ele só pode ser amor quando apresenta o novo, quando rejuvenesce o ser e assume a existência como fato singular e inédito. Por essa razão, o amor traz sempre novos ares à existência, ele é sempre odres novos. Quem ama nunca quer conservar nada, na verdade, deseja experimentar plenamente tudo o que a vida pode ser e oferecer.

Amor é quietude, lentidão. A essência do amor é paz. Aqueles que foram atingidos pelo amor têm um ritmo diferente de viver. Andam mais devagar, comem mais devagar, vivem mais devagar. São capazes de sorver mais intensamente os momentos e as oportunidades. Quem ama tem a alma sossegada, pois já encontrou o sentido da vida e a satisfação de viver.

Ainda não sei amar como devia. Ainda me preocupo muito em ter os meus gestos de afeição compreendidos, ainda tenho receio de mostrar às pessoas o quanto amo e ser rejeitado; sou, por vezes, covarde. Além disso, reproduzo muitos velhos vícios relacionais e não consigo ser eu mesmo, tenho ciúmes e procuro conservar a todo custo quem considero minha posse. Por fim, sou ainda muito barulhento, corro demais e sempre atropelo as pessoas. Como disse, ainda não sei amar como devia, mas vou tentando.

Roberto Montechiari Werneck

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