quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tolerância e Respeito



“A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos.”
Mohandas Gandhi


O poeta e escritor William Blake afirmou que como a cristandade e o céu tinham seus escritos, o inferno também possuía os seus e, segundo ele, um deles dizia: “O corvo queria tudo negro; tudo branco, a coruja”. Mesmo sendo, como ele disse, uma citação de origem infernal, não deixa de ser pertinente. Seja o provérbio uma simples constatação ou crítica à realidade demoníaca e humana, certo é que muitas pessoas vivem assim em nossos dias. A intransigência e o hábito de impor ao outro o querer pessoal como única alternativa viável e possível tem feito com que a história seja uma repetição constante de mazelas, atrocidades e infortúnios, fazendo do mundo um lugar inóspito e difícil, um ambiente, definitivamente, desconfortável para se viver.

Sei que em alguns momentos é muito difícil, ou mesmo, impossível, nos desfazermos de nossos desejos. Entendo também que o querer pessoal é uma realidade e, simplesmente, negá-lo não é um caminho muito saudável. Porém, fazer dele um imperativo que desconsidera a vontade alheia, com certeza, não é uma atitude benéfica. Sou levado a perceber que, se desejamos viver dias melhores, precisamos considerar a possibilidade de sermos mais tolerantes, ou mesmos, mais predispostos a negociar desejos e posições em circunstâncias em que nossas vontades se contrapõe ao querer alheio.

Para tanto, creio que é preciso antes de tudo estabelecer uma comunicação eficiente em que as partes se disponham a procurar entender a perspectiva do outro. A isso podemos chamar de comportamento empático, no qual um indivíduo se coloca no lugar do próximo procurando entender a situação sob a sua perspectiva. Vale ressaltar, que a empatia só pode ser desenvolvida por pessoas humildes, pois disponibilizar-se a sair do lugar de autoridade dado pela perspectiva única para ver a circunstância sob o olhar da outra pessoa requer humildade; e por pessoas curiosas e criativas, aquelas que alimentam o desejo de crescer e compreender a vida sob novas formas.

Em alguns momentos, ao agirmos de maneira tolerante e empática, seremos surpreendidos pelo desejo de mudança, porque iremos perceber que a noção e visão do outro é, pelo menos, mais interessante e realista que a nossa. Em outros momentos, confirmaremos nossa posição e, por causa de nossas atitudes, conduziremos as pessoas a uma mudança de postura. Mas, pode ser que nem eu e nem o outro sejamos convencidos pela lógica e argumentos usados e, mesmo assim, será possível haver uma convivência respeitosa e cordial. Pode ser que a coruja continue desejando que tudo seja branco e, o corvo, que tudo seja negro, mas ambos entenderão que os limites de seus desejos terminam quando o direito do outro começa a se estabelecer.

Roberto Montechiari Werneck

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