quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Efêmero Perene


“Os nossos atos só aparentemente são efêmeros. Por vezes, as suas repercussões perduram por séculos. A vida do presente tece a do futuro”
G. Bona

Tudo que existe perece, expira. Existir é em si uma passagem, um momento que sucede outro, existir é a realidade do provisório. A própria etimologia do termo existir (do latim ex sister) significa: sair de um lugar para outro. Tem, portanto em si, a marca da mudança e a propõe. Desta forma, Reconhecer o efêmero como algo inalienável à existência é afirmar que passamos, que existimos por um pouco e, logo a seguir, não mais estamos. A nossa existência, por ser existência, reconhece o fato.

A questão é: se reconhecemos essa realidade, por que nos agarramos às coisas e manias? Porque nos enclausuramos a rotinas como que se assim pudéssemos eternizar aquilo que é fugaz? Por que nos esforçamos em atualizar aquilo que passou e reeditar o que não mais é? Provavelmente, muitas sejam as respostas, porém, todas de uma maneira ou de outra, associadas ao medo. Tememos seguir adiante rumo ao desconhecido; tememos os rompimentos e a nova vida que irá suceder; tememos e tememos e a existência que deveria ser um vapor que existe por um momento, deixa de ser tocada pelo vento e não flui, vira gás venenoso enclausurado nos recipientes vedados e seguros.

Fico imaginando pessoas que não temem ser existência, que se permitem, simplesmente, acontecer. E essa seria a sua beleza, e essa seria a sua herança e dádiva ao mundo. Demonstrar a vida nesse planeta como trânsito, sem contudo, menosprezá-la ou dizê-la menor, muito ao contrário, falar dela como intensidade temporária e, paradoxalmente, aprazível. Ela assim seria um gozo que, por momentâneo que fosse, iluminaria o caminho para a perenidade . A existência que assim o fosse, nesse caso, poderia ser identificada com a continuidade do provisório, aquele que existe e na existência encontra-se consigo e se identifica, permanece e não se perde de si.

Roberto Montechiari Werneck

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