terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sobre a Morte

“O homem não tem poder sobre nada enquanto tem medo da morte. E quem não tem medo da morte possui tudo”
(Léon Tolstoi – Guerra e Paz)

Vez por outra me pego pensando a respeito da morte. Algumas pessoas poderiam dizer que sou mórbido, doentio. Mas creio que não, gosto da vida e de viver, por isso mesmo, inevitavelmente, a questão da morte me intriga. Convenhamos, ela é um grande enigma. Sobre essa incógnita existencial se debruçaram as grandes mentes da humanidade. Ela simplesmente não pode ser ignorada, sua realidade é inquestionável e levanta muitas questões. Talvez, alguns sejam fugitivos habilidosos do tema, porém, a sua própria fuga denuncia as suas mais profundas preocupações.

A tempos atrás o prêmio Nobel de literatura, José Saramago, escreveu uma interessante fábula sobre ela em seu livro As Intermitências da Morte, no qual considera a calamidade que seria a sua inexistência, ou melhor, ausência, em um mundo enfermo como o nosso. Saramago, mesmo não crendo em Deus, foi capaz de enxergar a morte como um sinal de misericórdia, sabe-se lá de quem.

Isabel Murteira França em seu livro "Fernando Pessoa na Intimidade", afirma que o poeta, em 30 de novembro 1935, em seus últimos momentos, pediu seus óculos e escreveu em inglês a sua última frase que dizia: “I know not what tomorrow will bring”, ou seja, “Eu não sei o que o amanhã trará”. Até então, a rotina de vida do poeta, a tabacaria, os seus passos lentos pelas ruas de Lisboa eram uma tênue certeza para ele, mas agora o lugar comum chegava ao seu termo e o desconhecido abismo se apresentava.

Há aqueles, como o teólogo da libertação Leonardo Boff, que vêem a morte como uma amiga, uma companheira. Segundo Willian Faulkner, em seu livro O Som e a Fúria, assim também a percebia São Francisco de Assis que a chamava intimamente de Irmãzinha Morte. Porém, outros como o apóstolo Paulo, tinham um olhar diverso a respeito dela, segundo ele, a morte era o último inimigo a ser vencido, uma coisa antinatural, um estigma doloroso impresso na história do universo e da humanidade.

Como disse, o tema me interessa, me desafia. Não sou afeito a pensar na morte como uma amiga, nem mesmo a entendo como uma realidade amistosa, mas mesmo assim, sei que ela é uma comparte da existência, ela me espreita. Vivi um tempo sem considerar que ela chegaria, a morte era então para mim somente uma idéia distante. Contudo, houve um momento, um fragmento de tempo, em que me defrontei, definitivamente, com a consciência de que mais cedo ou mais tarde esse fato me alcançaria. Desde então me sinto como Fernando Pessoa, que disse em seu Livro do Desassossego: “Sinto-me às vezes tocado, não sei porquê, de um prenúncio de morte...”. O interessante, é que não a temo, mesmo reconhecendo a sua eficácia dolorosa. Sei que ela chegará, isso é um fato, mas também creio que ela não é a nota final da existência, foi dominada e se tornou um instrumento para me conduzir ao Eterno.

Por enquanto, gosto de conversar a respeito, ouvir o que outros têm a dizer sobre o tema. Como disse, alguns podem me chamar de mórbido, quem sabe tenham razão, eu porém vejo que fui curado.

Roberto Montechiari Werneck

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