terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Crise de Integridade

“Nas grandes crises, o coração parte-se ou endurece”
(Honoré de Balzac)

Há uma séria crise de integridade em nossos dias. Creio que essa realidade não seja em função das pessoas de hoje serem piores do que aquelas dos tempos passados, mas sim, creio que se estabelece em função de como a vida em sociedade e as relações estão estruturadas. Existem hoje três conceitos sobre os quais o empreendimento humano acontece e que tem promovido a atual crise de integridade que vivemos.

O primeiro deles é o materialismo. Segundo este conceito, a única coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria, sendo ela e suas propriedades a causa de todos os fenômenos do Universo. Portanto, o único investimento viável é aquele que diz respeito ao temporal e material. Frente a este conceito, quaisquer considerações de ordem espiritual ou transcendente perdem o sentido e a relevância. Como conseqüência, falar ou apelar para uma moral absoluta, que tem as suas bases na realidade espiritual e eterna, no intuito de nortear a vida em sociedade é um equívoco a ser evitado, pois o que define a existência é o aqui e agora mecânico e material. Assim, ao invés de integrar a espiritualidade ao objetivo, o materialismo fragmenta o homem e embota o seu espírito, prejudicando assim a sua vivência no mundo, tornando-o um ser sem sentido em um mundo fruto do caos.

De braços dados ao materialismo, o pragmatismo permeia a vida pós-moderna e implementa a atual crise de integridade. Segundo a perspectiva pragmática o sentido de tudo está na sua utilidade (utilitarismo), no seu efeito prático. Um indivíduo pragmático inevitavelmente conclui que as idéias, valores, princípios e atos de qualquer pessoa, instituição ou sociedade somente são verdadeiros se trazem solução imediata aos seus problemas. Em outras palavras, para ele: "Os fins justificam os meios". Como conseqüência, encontramos um mundo que se norteia e se mobiliza para atender com instantâneos a consumidores ávidos. O mundo que vive a crise de integridade é o mundo do fast food, dos descartáveis, das respostas rápidas e superficiais que atendem problemas urgentes. Nele encontramos a desconsideração pela ética e por tudo aquilo que não se mostra funcional. O pragmatismo fez da verdade uma conclusão prática e depreciou a sua importância. Hoje as pessoas ao invés se perguntarem diante da vida: “Isto é verdade?”, perguntam: “Isto funciona?”. Assim, se uma mentira funciona melhor do que a verdade, a mentira se torna o melhor caminho.

Concluindo essa tríade conceitual moderna que tem promovido a atual crise de integridade, podemos encontrar o hedonismo. Poderíamos identificá-lo como uma teoria ou doutrina filosófico-moral que advoga ser o prazer individual e imediato o supremo bem da existência. O prazer se torna o bem último da vida, sendo essa busca a única e possível forma de vida moral. Portanto, tudo aquilo que é incômodo ou desagradável deve ser evitado a todo custo. Com prejuízo para a sociedade, e intensificando a crise de integridade que vivemos, o hedonismo se associou ao consumismo capitalista e se tornou um monstro ainda mais voraz. Assim, a busca do prazer, mediatizada pelas coisas, fez do mundo um banquete de misérias relacionais e espirituais. Se o prazer pessoal exige a posse do que é do outro, ou se outro se torna impecilho ao meu prazer ele precisa ser eliminado ou submetido.

Crises são também grandes oportunidades para profundas avaliações e mudanças. Pode ser que essa crise nos leve a perceber a conseqüência de nossos investimentoe e possa nos indicar uma melhor maneira de viver em que o homem seja mais completo, verdadeiro e altruísta.

Roberto Montechiari Werneck

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