quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cansaço e Refrigério



“De pé, sobre os países conquistados
Desce os olhos cansados
De ver o mundo e a injustiça e a sorte.
Não pensa em vida ou morte”
Fernando Pessoa


Tenho chegado a um tempo de cansaço. Não é um cansaço físico ou resultado de stress de trabalho, é um cansaço existencial, dolorido. Às vezes, olho para meu coração e encontro lágrimas que foram se acumulando durante anos, e, percebo que não são somente meus choros adiados, são histórias de gente que vi sofrer, gente que foi injustiçada e mutilada por feras de todos os tipos e gêneros, feras humanas soltas em lares, em religiões e instituições. Gente que não tinha a quem recorrer e se viu sem forças, sequer, para continuar. Elas entraram em minha vida e eu pude aprender que quando ajudamos outros a carregar seus fardos, somos levados a chorar suas lágrimas, pois elas inundam nossos corações, e somos conduzidos, muitas vezes, à exaustão.

Tenho estado cansado de ver a exploração da boa fé do povo por parte daqueles que deveriam ajudá-las. Líderes religiosos de todos os naipes e medidas que lançam mão de todos os meios possíveis para usurpar dos fragilizados tudo o que for possível. Uma espiritualidade sem misericórdia e graça, onde os resultados definem os vitoriosos, ambientes em que a compaixão, o perdão e o amor não encontram ocasião. Tradições que sufocam almas, e mentiras que foram ditas tantas vezes que se tornaram verdades inquestionáveis.

Estou cansado de andar em um mundo que jaz no maligno. Mas quando falo deste mundo perverso que me cansa e no qual tenho que trilhar, estou falando não, necessariamente, de lugares demonizados, mas daquilo que as pessoas carregam nos corações e dos princípios e valores que permeiam suas vidas e relacionamentos. Não entendo que um bar seja mais mundo que um templo, entendo que estes lugares podem ser tanto lugar do reino de Deus, como a mais pura expressão do inferno. O que define um ambiente como reino de Deus é quem ali está e o como essa pessoa vive este lugar. Pois foi isso que Jesus nos ensinou quando disse que o Seu reino não viria com aparência exterior, nem poderiam dizer: “ei-lo ali” ou “lá está ele”, pois ele seria estabelecido no coração daquele que crê. Por esta razão, tenho estado cansado de ver o reino de Deus aprisionado nos templos, amordaçado, sem sequer poder andar pelo mundo com liberdade e autoridade, um reino que se perde do seu Deus em função das barreiras da religiosidade.

Estou cansado de me ver tão impotente, tão pequeno, tão frágil diante de tudo isso, e também, diante dos meus próprios erros e limitações. Estou cansado de não ter voz e quando a tenho sou tão cauteloso ao falar, tão tímido ao dizer o que deveria ser dito.

Só tenho continuado a seguir porque tenho a Quem seguir, Alguém que tem desembaraçado os meus pés e aliviado os fardos que tanto me cansam. Dia-a-dia preciso ir a Ele e chorar minhas dores, lançar sobre Ele as minhas ansiedades, depositar em suas mãos os lamentos e lágrimas daqueles companheiros de caminhada que confiam a mim suas aflições. Quando assim faço, encontro alívio e uma paz que não posso compreender, mas que está lá, forte, irredutível e que proporciona o sono dos justos.

Roberto Montechiari Werneck

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