terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Cansaço e descanso

“Vinde a mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28)

Há tempos que me sinto cansado, realmente, exausto. Pensava ser cansaço resultante do trabalho, decorrente das atividades, dos compromissos assumidos. Mas, ultimamente, tenho entendido que esse é apenas um minúsculo aspecto relativo à fadiga sentida.
Percebi que o meu cansaço diz respeito ao jeito de ser e de se viver nesse mundo, à maneira como a sociedade funciona e ao que ela exige de mim. Na verdade, sinto-me muito pouco frente ao olhar cheio de expectativa das pessoas. Todos esperam o ideal, o sublime, o exato. Canso-me só de pensar em tentar atender a diversidade de exigências cotidianas que me fazem: ser um pai perfeito, um marido exemplar, um profissional modelo, um cidadão respeitável, além de ter que ter um corpo sarado e saudável, não basta só ser saudável.

Esse também é um mundo que afirma a importância do sucesso. Você é o que tem e o que aparenta ser. Dessa forma, para ser alguém é preciso se matar de trabalhar para conseguir comprar coisas que vão dizer quem você é. Há aqueles que gritam o oposto e dizem, como músico Marcelo Camelo do Los Hermanos: “Eu que já não quero ser um vencedor, levo a vida devagar para não faltar amor”. Porém, ele é uma exceção em uma multidão que corre ansiosamente atrás da glória e não se importa se vier a faltar amor.

Estou igualmente cansado de ver o florescimento da injustiça, o domínio dos maus, a tirania dos intolerantes e daqueles que se dizem tolerantes. Estou exausto de sofrer tristezas ao presenciar o desperdício de vidas em guerras injustificáveis, ao observar o abandono de nossas crianças, ao notar o equívoco de certas leis e a incoerência de determinadas autoridades. Estou fatigado e às vezes fico a pensar se a minha existência faz alguma diferença diante do mar de lama ao meu redor. Estou cansado de ser tão pouco frente a tanta miséria material e espiritual.

Além disso, olho para mim mesmo e percebo que não sou tão diferente assim. Vejo que o cansaço que sinto, resulta, em parte, da luta que empreendo dia-a-dia para ser um pouco melhor. Percebo algumas vezes que a injustiça e o mal que vejo fora, no mundo, só me agridem profundamente por que sei que poderia cometê-los, eles são, de certa forma, meu espelho, meus iguais. O escritor francês Georges Bernanos também era capaz de enxergar essa equivalência, quando afirmou: “O espetáculo da injustiça acabrunha-me, mas isso se deve provavelmente ao fato de ela despertar em mim a consciência dos atos de injustiça de que sou capaz”.

Sei, ainda, que estou cansado de esperar tanto das pessoas e de submetê-las àquilo que abomino. Faço aos outros exatamente o que não gostaria que me fizessem. E como disse o apóstolo Paulo, vejo essa luta em mim, o bem que desejo fazer, não o faço, e o mal que não quero fazer, faço constantemente.

Por essa razão, por causa desse cansaço, dessa exaustão é que eu percebo o quanto preciso de repouso verdadeiro, seguro e duradouro; o quanto preciso de um Deus amoroso que me acolha em Seus braços, alivie a minha alma e me cure de mim e das manias desse mundo. Só Ele é meu descanso, só Ele é meu alívio, e mesmo passando pelo vale da sombra da morte sei que vou chegar em casa e poderei descansar eternamente.

Roberto Montechiari Werneck

Nenhum comentário: