quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sobre gaiolas e céus



“O mais belo estado da vida é a dependência livre e voluntária: e como seria ela possível sem amor?”
Johann Goethe


Vez por outra, preciso me lembrar que o amor não é uma gaiola, que posse nada tem a ver com afeição e que pessoas não são coisas. Preciso me lembrar dessas verdades porque há ocasiões que me pego exercitando o estranho hábito de construir cadeias para aprisionar aqueles que amo. Em nome de um zelo sincero, também sou capaz de ferir e atrofiar a vida daqueles que são preciosos para mim, seus sentimentos e desejos.
Faço assim, normalmente, por me sentir inseguro em relação ao que sou. Percebo que quando me esforço para limitar as ações, contatos e relacionamentos das pessoas, estou somente expressando a visão negativa que tenho a meu respeito, pois se estivesse seguro do meu valor, permitiria que o outro vivesse sem as grades e cercas de segurança que imponho.

O amor verdadeiro deixa voar, permite que o outro seja quem é, e, até mesmo, deixa que ele siga caminhos que, mesmo eu, não estou disposto a seguir. Desta forma, ele é liberdade em seu sentido pleno, sendo em si a permissão para a partida e para o retorno, sempre possuindo os encantos da graça e da compreensão.

Preciso sempre me lembra que a essência do amor é a liberdade. Não posso obrigar as pessoas a viverem aquilo que elas não desejam. Se assim o faço, decomponho o amor em um capricho pessoal e mesquinho, faço dele somente um querer individual e autoritário em detrimento do outro e de seus desejos.

Ao invés de construir gaiolas para aprisionar a almas, preciso aprender a construir céus para que elas se aventurem na arte de voar. As pessoas se tornam melhores quando têm a oportunidade de cultivarem sonhos e de se arriscarem por eles, quando podem olhar adiante e vislumbrar um amanhã diferente e uma vida melhor, mesmo que eu não venha a fazer parte essencial desta nova trajetória.

Quando não existem gaiolas, sempre existe a possibilidade do outro partir. Mas, somente assim o seu permanecer faz algum sentido real. Pois se alguém é livre para ir e deseja ficar, isso testifica que o que existe é realmente precioso e singular. Assim, prefiro hoje ter as pessoas que amo livres ao meu lado, do que tê-las enclausuradas a mim e sonhando com outra vida.

O próprio Deus assim conosco faz, o amor de Deus é céu e nunca gaiola. Mesmo preparando um lindo paraíso para o homem, Ele deixou a porta aberta para a partida e em Cristo a Porta aberta para o retorno.

Roberto Montechiari Werneck

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