terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sonhos, os Grandes



“Se um tanto de sonho é perigoso, não é menos sonho que há de curá-lo, e sim mais sonho, todo o sonho. É preciso conhecer totalmente os nossos sonhos, para não sofrermos mais com eles”.
(Marcel Proust – À Procura do Tempo Perdido)

Tenho muitos sonhos engavetados. Muitos projetos meus ficam sobre o travesseiro quando levanto pela manhã para cuidar das minhas responsabilidades. Creio que os deixo lá por medo. Pois sonhos são entidades estranhas que assombram a realidade. Eles são vozes que declaram a possibilidade de um novo mundo, de uma outra maneira de existir. Eles me assustam porque já estou acostumado, adaptado, modelado ao meu ambiente, aos meus relacionamentos e hábitos, e receio que alguma novidade dê as caras.

Muitas vezes tenho medo de ser identificado com os meus sonhos, porque a lucidez convencional, normalmente, os nomeia de loucura. Tornam-se loucos todos aqueles que permitem que outros saibam de seus grandes sonhos. Pequenos sonhos são permitidos e até incentivados, o problema são os grandes. Eles saem do território apertado de nossos quintais para invadir o mundo e contagiar outros. Eles são como vírus a contaminar, esquentam os corações e promovem delírios na alma. Por isso, para manter a ordem social e a boa convivência, eles devem ser monitorados e banidos.

Faulkner escreveu: “A sabedoria suprema é ter sonhos bastante grandes para não se perderem de vista enquanto os perseguimos”. Sonhos são como coelhos velozes, ágeis, arredios, eles estão sempre um passo à nossa frente, e assim devem permanecer. Mas, quando os deixamos apequenar para se enquadrarem ao contexto, ao possível, eles se tornam discursos fáceis e domesticados, prontos a anestesiar a alma com as teias da razoabilidade.

Sonhos, os grandes, exigem sacrifícios, exigem uma cruz, mudam o mundo. O primeiro a aspirar um novo mundo serve como libação, é ele quem abre as portas para o reino dos céus, mas tem o seu corpo pregado numa cruz. O primeiro a sonhar é o primeiro a morrer, é aquele que será ridicularizado e ameaçado com a inquisição, que o diga Galileu Galilei, que enxergou além de todos e precisou colocar uma venda nos olhos.

Mesmo com todos os medos e receios que soterram muitos dos meus sonhos, existe um que sobrevive, o maior deles. Esse sonho é o desejo de presenciar e efetivar em meus dias um reino eterno e universal, o mesmo que desembocou nesse mundo há pouco mais de dois mil anos atrás. A grandiosidade daquela mensagem de amor, transvestida da mais sublime humildade, fez a minha alma queimar, contaminou meus olhos, tirou meu chão, se tornou o meu grande sonho. Hoje, mesmo abrindo mão de alguns sonhos, sei que esse vai me conduzir para a cruz e sigo feliz esse caminho.

Roberto Montechiari Werneck

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