segunda-feira, 23 de março de 2009

Saudade

Talvez seja o olhar, quem sabe o cheiro ou a voz, ou mesmo, tudo isso e muito mais. A presença consoladora, o colo, os tapas que, vez por outra, não doíam na pele, mas na alma, a despertar para a vida. A confiança depositada, o ouvido a ouvir os sonhos de criança, as preces quando os olhos infantis já estavam cerrados em profundo sono. Os olhos cheios de lágrimas, a preocupação a sulcar o rosto. Os lindos dentes brancos e o hálito maravilhoso. O carinho e submissão à figura paterna. A eficiência em coordenar as contas de casa e administrar os parcos recursos de um salário de professora. A comida maravilhosa, aqueles cheiros mágicos que invadiam os sentidos e inebriavam a alma, fazendo com que cada refeição fosse um ritual de prazer. A devoção espiritual a apontar o caminho para Deus, a conduta sincera a trilhar a trajetória da cruz. Os pequenos poemas ensinados enquanto o caminho para a igreja era seguido: “Vejo à noite uma estrelinha, no céu piscando, piscando / Mamãe disse que ela de longe, pisca, pisca me chamando / Quando eu crescer, papai comprar um avião / Eu vou te buscar estrelinha, na palma de minha mão”. E assim as estrelas se tornaram sonhos possíveis e a inspiração daquelas palavras fizeram com que a vida não fosse um fardo, mas uma aventura.

Hoje, a minha memória celebra uma das mais profundas experiências que é ter memória de ti. Mãe querida e amada, suas atitudes, cheiros, gestos e carinhos são saudade boa. Tenho que reconhecer que a sua profecia se cumpriu mãe, eu tenho saudades de casa e de você.

Roberto Montechiari Werneck

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