quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Vida e a Morte

Roberto Montechiari Werneck

Para mim a vida é algo fora dos padrões. Tudo que existe é espantoso, a própria consciência, um mistério. Ao olhar um ornitorrinco, ou, ao ouvir e dizer que entendo a voz humana fico surpreso; as cores e bico de um tucano, ou mesmo, as ondas do mar e as tonalidades de um final de tarde me encantam.

Na minha precariedade reflexiva o que sei é que a efervescência das manifestações da existência se recriam e florescem na multiplicidade, na diferença e sempre vazam por nossa pretensa compreensão. Há aqueles que pensam que quanto mais de perto olharem o mundo, mais a entenderão. A própria ciência tomou para si lentes e ouvidos possantes, super-poderosos, porém, quanto mais vasculha as entranhas das coisas, mais incompreensível se mostra a materialidade e mais enigmas surgem.

A morte é padronizada. De fato, nada me parece mais com ela do que a linearidade brasílica, a estandardização dos comportamentos, a estagnação dos discursos politicamente corretos, as linhas de montagem, os ambientes institucionais higienizados. Vejo-a estampada nos ternos e protocolos dos homens sérios, na fileira dos bancos de um templo, nas carteiras alinhadas das escolas. A morte controla, amarra, imobiliza. A vida, porém, expande, se diversifica, é movimento. Por essa razão, encanto-me com a existência que é essa imprevisibilidade, com a vida que é esse fortuito encontro de variáveis contingenciais, abundância, profusão. Vê-la assim é um presente, uma cura que acontece nos olhos.

Todavia, o problema é que a morte, que usa o nome de normalidade, alcançou as perspectivas e impregnou o mundo com as filas, com os enlatados, com a obsessão pelo lucro. Poucos são aqueles que pensam em ganhos que diferem do dinheiro. O reforço é generalizado, as pessoas trabalham não para ser, mas para ter. E naquilo que possuem, se tornam.

Na verdade, eu escrevo este texto para me lembrar que quero a vida. Sim, para me lembrar, pois o esquecimento das coisas importantes é um fato ao qual sou acometido quase todo dia. Preciso me sacudir e resistir ao sono da morte, dizendo a mim mesmo que a vida é movimento. Anseio por romper a tampa dos meus caixões. E além daquilo que é imanente quero transcender. Por que hoje sei que a vida continua, mesmo quando a morte parece ter vencido.

Um comentário:

Cíntia Werneck disse...

Primo querido, amei o texto e concordo plenamente com tudo! Tb quero VIDA pulsando a todo instante, por mais q a "morte" esteja tentando nos controlar em nosso dia-a-dia. Espero q consigamos vencer essa batalha diária, sem nunca esquecer q SER é melhor q TER! Sempre!!!